sexta-feira, 15 de maio de 2015

PROPOSTA CURRICULAR DE SANTA CATARINA/REORGANIZAÇÃO CURRICULAR - ETAPA 1

EDUCAÇÃO BÁSICA E FORMAÇÃO INTEGRAL

Com a redemocratização política do Brasil a partir dos anos de 1980 intensificou-se por parte dos gestores educacionais e professores o debate sobre questões curriculares assumindo de forma geral o pensamento social com linha mestra uma reflexão crítica da educação brasileira. Neste sentido, apoiados na sociologia e com ideias de vertente Marxista escritas nos textos do filósofo Antônio Gramsci uma transformação no modelo educacional, onde predominava o tecnicista hegemônico na educação. A grande maioria dos professores pretendia neste momento histórico substituir o modelo tecnicista por um modelo mais libertador capaz de a curto prazo realizar uma mudança de paradigmas e consequente transformação dos processos de ensino, aprendizagem e desenvolvimento humano, para isso escolheram a abordagem histórico-cultural para nortear o processo. Com um cenário político favorável e um investimento em cursos de formação continuada a toda rede estadual de educação de 1988 a 1991 é formulada a primeira edição da proposta curricular de santa Catarina, centrada numa concepção de sujeito, de projeto de escola e de sociedade. Com base nesta proposta novos documentos são produzidos na coletividade educacional destacando-se os cadernos de 1998 e 2005.
A partir deste contexto pergunta-se:
  • Estariam     os professores preparados para uma mudança brusca de paradigma?    
  • Como     seria a ação pedagógica de um professor acostumado a transmitir     “sujeito”, baseado em teorias Skinerianas para uma teoria     Marxista?   
  • No     modelo tecnicista o aluno é tábula rasa “objeto”. No modelo     histórico - cultural o aluno passa a ser sujeito. Como agiria o     professor1     nesta mudança?
  • O     professor detentor dos conhecimentos “o sujeito” incontestável,     que nada tem a aprender passa na condição de aprendiz. Estaria o     professor preparado colocar em jogo seu conhecimento2?
De qualquer forma Santa Catarina tem uma Proposta Curricular que contempla uma educação mais libertadora3 que contempla professores e alunos como sujeitos da aprendizagem.
Um dos fios condutores da Proposta Curricular que se apresenta como um desafio é a perspectiva de formação integral, referenciada numa concepção multidimensional de sujeito. Cabe aqui destacar que o grupo de produção composto por grupos da educação municipal, estadual, federal e privada de diferentes ideologias, consequentemente expressa por diversidade de ideias comtemplou cinco seminários presenciais até estar completamente definida.
Havia uma página interativa na internet onde todos os professores da rede estadual pudessem acompanhar e sugerir propostas ao grupo de produção. Criou-se as salas, que são:
  • Sala     de Ciência da natureza e Matemática;   
  • Sala     de Ciências Humanas;   
  • Sala     de Diversidades;   
  • Sala     de Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental;
  • Sala     de Linguagens.
O ideia central desta discussão está em torno da formação integral do ser humano como ponto de partida na emancipação humana. Em destaque se apresenta a frase: “Quanto mais integral a formação dos sujeitos, maiores são as possibilidades de criação e transformação da sociedade”.
Como e quais as condições4 que os profissionais da educação tem em realizar uma educação integral? Quais são os necessidades básicas de uma escola na aplicação de uma educação de formação integral?
Acreditamos que tudo começa por grandes investimentos em toda a esfera educacional. Deveríamos destinar uma parcela digna do PIB de forma igualitária em todos os níveis da educação do Brasil. Neste sentido, poderíamos chamar o Brasil de “NAÇÃO”. Distribuir estes recursos com investimentos da educação infantil ao ensino superior na esfera municipal, estadual e federal. Investir na formação de mestrado e doutorado a todos os professores da nação. Com esta parcela do PIB (maior investimento que um pais pode fazer) seguindo o exemplo da Finlândia, poderíamos criar um piso salarial a todos os professores na ordem de 30% do que ganha um deputado ou um Juiz. Não se constrói uma educação emancipatória com assistencialismo e tão pouco uma formação integral. Conforme palavras do ex - ministro da educação o Senador Cristovam Buarque: "Seria uma tragédia se o Brasil de hoje não tivesse a Bolsa Família. E será uma tragédia se, daqui a 20 anos, a gente continuar precisando da Bolsa Família. E a saída é a educação".
Sabemos que muitos brasileiros não tem as mínimas condições de ter uma vida digna. Tudo bem matar a fome, mas com projetos bem embasados podemos matar a fome e educar para a cidadania e fazer com que todos tenham acesso a escala produtiva da nação. Podemos chamar isto de educação integral e emancipatória. Dar e doar migalhas não é digno e sim continuar submisso ao sistema. A formação integral só começa a partir do momento que o ser humano supre as necessidades básicas: comer, beber, morar e vestir. Incluir estes itens pode ser uma saída inicial nas escolas de populações mais carentes para em seguida aplicar uma educação voltada na construção de um ser humano pensante e transformador da sociedade em que vive. Os gastos na educação de cada cidadão seriam revertidos como bônus5 para a sociedade inserindo nela um homem capaz de produzir e trabalhar com dignidade no crescimento do País.
Qual a consequência deste investimento?
Aplica-se dinheiro do PIB para tirar as crianças das ruas, mata-se a fome e como proposta de ensino uma formação integral e de qualidade resgatando a dignidade6. Como retorno, este ser humano não precisa viver do assistencialismo e de bolsas que nada geram de retorno. Também, este cidadão poderá estar pensando e criando tecnologias7 que poderão servir como produto de exportação gerando riquezas a “NAÇÃO” e de forma natural revertendo num aumento do PIB.
A razão da Proposta Curricular é permitir, dar condições de encontrar a melhor forma do aluno apropriar-se do objeto do conhecimento. Concluiu-se que o conhecimento é como um artefato humano produto e produtor da cultura, constitutivo das relações entre os sujeitos, deles com o mundo e com a natureza.
Conhecimento numa perspectiva histórico-cultural não é simplesmente saber ler o que está nas linhas, mas sim ler e compreender o que está escrito nas entre linhas.
Entendemos também que nesta perspectiva não basta somente adquirir o conhecimento, mas saber o que fazer com o objeto do conhecimento das diferentes áreas do ensino. É conhecer pela história do passado para viver com intensidade e consciência o presente transformando para melhor o meio em que vive e pensando e projetando um futuro com segurança para as gerações que darão continuidade a espécie humana. É conhecer as Leis que regem a Ciência, a forma que o planeta precisa ser conduzido, preservando as espécies animais e vegetais, poluir menos e transformar o meio com responsabilidade evitando num futuro próximo a morte do Planeta Terra.
O grupo de produção propõe que: “Uma formação mais integral do cidadão supõe considerar e reconhecer o ser humano como sujeito que produz, por meio do trabalho, as condições de (re)produção da vida, modificando os lugares e os territórios de viver, revelando relações sociais, políticas, econômicas, culturais e socioambientais”. A escola com sua equipe pedagógica montar um currículo que contemple e se conecte com a realidade do sujeito. Outra perspectiva são as diferentes áreas do conhecimento proporcionar uma interação entre os conteúdos.
Quando nos propomos desenvolver uma educação integral ou formação integral devemos pensar numa escola com estrutura diferenciada que contemple a possibilidade de acesso a uma enorme gama de conhecimentos práticos e teóricos. Na área da educação física8: ginásio esportivo; campo de futebol com grama, pista de atletismo, piscina para desenvolvimento da natação entre outras. Na área das Ciências Naturais equipar bons laboratórios e observar desde as séries iniciais os alunos com tendências científicas. Como exemplo de algumas escolas americanas que tem local no pátio da escola para lançamento de mini foguetes. Investir e bibliotecas bem equipadas e incentivar a comunidade escolar a prática da leitura. Para Paulo Francis repórter e porta voz da globo nos EUA (falecido) onde dizia: “Quem não lê não pensa e quem não pensa será um servo para sempre”. A interpretação de uma notícia9 pode ter diferentes entendimentos, como por exemplo, assisti-la da voz de William Boner ou ler no jornal A folha de São Paulo ou no New Work Times. Quase sempre, por interesses das classes dominantes certas notícias são transmitidas de forma tendenciosa. Enfim, cada área tem suas necessidades de investimentos.
Como fundamento teórico metodológico é importante contemplar que: “é por meio da apropriação cultural, mediada pela linguagem, em suas diferentes formas, que os sujeitos em sua singularidade se humanizam, o que resulta na ressignificação de aspectos emocionais, cognitivos, psicológicos e sociológicos”.
O significado importante da tendência pedagógica histórico – cultural é a partir dos conhecimentos e da cultura que o indivíduo está inserido seja o ponto de partida para levá-lo a um grau mais elaborado do conhecimento. Seria a transformação do conhecimento do senso comum ao conhecimento científico. É levar o aluno a abstração10 do conhecimento. Para Gramsci: “todo homem é um ser histórico”. Começar o processo educativo valorizando a história de vida e os conhecimentos que o ser humano possui, torna-se mais consistente o processo ensino aprendizagem. Toda comunidade escolar são sujeitos em plena interação com o objeto do conhecimento.
O professor tem papel fundamental conhecedor dos conteúdos que pretende ensinar. Portanto sempre será supremo na disciplina de formação. Será neste contexto o sujeito condutor e mediador diante de outros sujeitos que procuram aperfeiçoar os conhecimentos que já possui e os novos conhecimentos de precisa aprender.
Todos somos sujeitos em transformação e abertos a novas aprendizagens. Finalizamos o texto com um pensamento de Eráclito: “Nunca te banharás nas mesmas águas do rio”.
Não significa dizer que as águas jamais voltarão no mesmo lugar, mas entender que amanhã quando voltarei a banhar-me neste rio, eu não serei mais o mesmo.
    A construção de uma sociedade transformadora está em aceitar as diferenças de cada ser humano. É permitir que cada cidadão expresse suas ideias, coloque em prática suas teorias que podem melhorar o meio em que vivem tornando a sociedade mais justa, consciente e humana. Ser capaz de discernir com inteligência os fatos sem julgamentos precipitados.
Podemos concluir que a aplicação de uma proposta de ensino histórico – cultural com perspectiva de Formação Integral tem suas complexidades, mas se levada a sério pode produzir grandes resultados.

    

    1     Na escola tecnicista o professor é o sujeito detentor do     conhecimento que vai ser transmitido. No histórico – cultural     professor e aluno são sujeitos e ambos podem aprender e ensinar.    
   
    2     O professor provindo de longo período de ditadura com forte     concepção empirista e apriorista encontra dificuldades em colocar     em jogo seu conhecimento que representa verdade absoluta. De     qualquer forma precisa entender que pode ensinar e aprender.
   
    3     O aluno passa de tábula rasa para uma condição de ser humano que     já é portador do conhecimento, o empírico. Passa de objeto a     sujeito na construção do seu conhecimento. O professor passa de     transmissor a mediador nesta construção.
   
    4    O professor precisa melhorar seu grau de conhecimento e o sistema     governamental aumentar os investimentos em infraestrutura.    
   
    5     Não à bônus sem ônus. Todo investimento sem visar lucros     imediatos podem a médio e longo prazo gerar bons resultados.
   
    6     Dignidade é através do conhecimento que o ser humano adquiriu     conseguir sobreviver, comprar o que precisa para suas necessidades     básicas. É não precisar de assistencialismo tornando-se massa de     manobra do sistema capitalista.
   
    7     O Brasil é grande importador de tecnologia. Se investimos numa     educação criativa e tecnológica em todos os níveis podemos a     longo prazo exportar tecnologias. É na escola que se aprende os     princípios básicos do conhecimento científico.
   
    8     Países que investem maciçamente na educação em todos os níveis     atingem os melhores resultados em tudo o que competem. Se     investirmos nos profissionais da educação física e estes     observarem os destaques em cada modalidade esportiva desde as séries     iniciais poderíamos num futuro próximo melhorar significativamente     a classificação nos jogos olímpicos.
   
    9     No Brasil poucas pessoas tem acesso a bons jornais. Não se     desenvolveu o hábito da leitura. Assistir pela TV notícias se     torna mais prático.    
   
    10     Até aproximadamente os 11 ou 12 anos de idade devemos     inserir o concreto no ensino. A partir dos 12 anos de idade o aluno     passa para a fase da abstração do conhecimento.
   
   
   
   

Cursistas:

Leila Cereja Borges
Geila schneiders
Rejane Reolon
Diana Tolotti
Elaine cristina Signor
Betina Salamoni
Célia M. N. dos Santos
Cleci M. W. da Silva
Altair José Fontana
Francieli De Ré Vitali
Maria L. Rugeri
Auria Tonet
ClecirT. zacchi
Leandro E. Bauermann
Lenize C. Gava Borghetti
Gilson Luíz Schaich 
Daniela Gava Mileski

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